sábado, 6 de mayo de 2017

ESCAPARATE POÉTICO (CIV) Antom Laia







                                             ANTOM  LAIA  (Melide, 1956)





ÁGUA E VENTO

Ao primeiro foi o vento,
a agua, a agua na agua,
o silêncio do ar no vento,
…a sombra na sombra,
a oquidade, a fondura.
Antom Laia

Despois as janelas,
abertas,
lençois brancos,
brancos lençois de seda
na túa espera.

E a gamela a vogar libre
entre as tuas pernas…!





EXISTES EN MIN

Depois de ter-nos amado feramente
na folhagem das prantas perfumadas,
minha cerva namorada!, havemos de
amar-nos novamente na cova do refugio.

No refugio dos corpos apouvigados,
chuva de lume nos beiços que se tocam,
braços que se abrasam no lume cego,
amor enlouquecido que se queima na espera.

Minha cerva namorada!, enmergulhado no
teu celme que respiro, asulago-me da tua
fonte bravamente como lobo esfameado.

Bravamente asulago-me na túa fontela para
saciar a sede que eu tenho no teu mar de algas
e poder verter en mi tudo o meu polem fecundado.







BOCAS


As bocas na espera do fragor.
O romance incompleto do fôgo
en chamas. O lume arde na
fogueira dos labres excitados,
as linguas tocan-se na humidade
das bocas. As bocas na espera
do lume que quenta os corpos
que se devaneiam como as ervas
de namorar e deitan-se e apagan-se
e dan-se inteiramente. As bocas
a juntar-se na espera do fragor.
Incompleto romance en chamas.






OS CORPOS


Está hoje um dia para olhar-nos.
Batem nos cristais pingas grossas
e no leito as pernas se entrelaçam
na árvore dos desejos anelados.
O sol atravessa fugitivamente as janelas
o mesmo que as vírgulas se apoussam
no cimo das palabras que nos quentam.
Nosso amor em segredos furacanados!
No interior dos corpos o sangue
das veias deborcado no meu ventre.

enquanto as pingas batam nos cristais e no
leito as pernas se entrelacem ávidamente






(Do libro No balouçar do vento. 2013)